Gol contra Itália, profeta no Mônaco e gratidão ao Flu: Matheus Carvalho mira voltar à Europa


O atacante Matheus Carvalho, hoje no Náutico, tem só 27 anos. Mas quem olha seu currículo não desconfia. Apesar da pouca idade, tem muita história para contar. Já fez gol na Seleção da Itália e foi Campeão Brasileiro pelo Fluminense, disputou Liga dos Campeões pelo Mônaco-FRA, ganhou Série B com o Atlético-GO, subiu para a primeira divisão com o Paraná. A lista é grande - e ele deseja ampliá-la.

Matheus sonha em voltar à Europa. O desejo de médio prazo, no entanto, passa por conquistas no presente. Para pavimentar o caminho, o atacante sabe que precisa de conquistas - a começar pelo acesso à Série B com o Náutico.

Feitos e gratidão ao Fluminense
Nascido e criado no bairro do Fonseca, em Niterói, foi nas Laranjeiras que Matheus Carvalho passou mais tempo como jogador. Desde os 7 anos, fazia o trajeto entre as cidades vizinhas para treinar no Fluminense. Começou no futsal, passou para o campo e alcançou o que poucos conseguem: virou jogador profissional.

Subiu em 2010 com o técnico Muricy Ramalho. Participou do grupo campeão brasileiro daquele ano, mas não entrou em campo. Começou a jogar em 2011 - e foi campeão nacional novamente no ano seguinte. Desta vez jogando.

Mais do que ajudar o time, Matheus aprendeu bastante. O grupo do Fluminense só tinha fera, como ele diz.

- Minha estreia foi logo substituindo Deco. Craque, maestro, um cara com quem eu tenho contato até hoje. Sempre procurei valorizar o contato com esses jogadores: Deco, Conca, Fred. Tudo que era bom eu queria agregar para minha carreira.

Embora bicampeão nacional pelo Flu, há um outro momento de sua trajetória pelo clube que faz os olhos de Matheus Carvalho brilharem.

Vésperas da Copa do Mundo de 2014. O Fluminense faz um amistoso contra a Itália, que se preparava para disputar o Mundial. O time perde por 5 a 3 - mas Matheus deixou sua marca.

"Perdemos o jogo, mas pude entrar e fazer um gol, justamente quando o time titular deles entrou. Tenho foto com Pirlo, Parolo, De Rossi na jogada. Isso foi marcante para mim."
O fim do contrato com o Fluminense posteriormente, em 2014, não pôs um ponto final na relação do atacante com o clube. Matheus se diz muito grato à equipe da qual admite ser torcedor.

- Minha família é tricolor. Tenho esse carinho pelo Flu. Eu torço pelo clube. Sou quem sou pela ajuda do clube. Tenho uma gratidão muito grande e um respeito enorme. Me tornei homem lá, me formei lá. Tenho bastante respeito.

Sonho realizado na Europa
O valor simbólico do gol contra a Itália tem relação aos atletas que vestiam a camisa da seleção. Pirlo, De Rossi, Bonucci, Balotelli. Todos pesos-pesados na Europa, o maior centro do futebol mundial. Matheus sempre quis estar ali.

Queria tanto que profetizou sua participação na Liga dos Campeões.

- No reveillon de 2014 para 2015, falei para os meus pais: "Neste ano, vou jogar uma Champions League. Não sei como, mas vou". Acabou que dois meses depois eu estava jogando.

O clube que o contratou foi o Mônaco. Na equipe do principado, Matheus viveu a maior emoção da carreira. Entrou nas duas partidas das quartas de final - contra a Juventus. O Mônaco empatou em casa e perdeu por 1 a 0 fora. A eliminação, no entanto, não foi capaz de inibir a alegria pela realização do sonho de um jogador de 23 anos de idade.

"Arrepiou tudo, comecei a chorar ouvindo a música da Champions League. Foi muito gratificante. Você lembra das dificuldades que passou."
A passagem pelo Europa, entretanto, foi mais curta do que Matheus gostaria. A adaptação não foi problemática. Um brasileiro, o volante Fabinho, hoje no Liverpool, ajudou - assim como vários portugueses no clube.

Um dos lusos era o treinador Leonardo Jardim. Matheus revela que Jardim queria mantê-lo no clube. Tudo se encaminhava para isso ao fim da temporada 2014/2015.

- Não sei até hoje o que aconteceu. Teve algum erro na negociação. Luis Campos, o diretor esportivo do Mônaco na época, disse que ia ficar comigo, que ia acertar por quatro anos. "Pode ir tranquilo para o Brasil que você vai voltar para cá". Voltei achando que estava tudo certo. Acabou não acontecendo.

Pior: Matheus não pôde jogar lá nem cá. Um problema burocrático o tirou dos gramados brasileiros por um semestre inteiro.

- A janela fechou. Tinha um tal de um documento TMS (sistema de transferência internacionais da Fifa), que acabou ficando preso na França. Meu ex-empresário não fez o pedido de retorno dos documentos. Não podia jogar nem na França, nem no Brasil.

Momento bom no Náutico
Após sair da Europa, ele acertou com o Fort Lauderdale, que disputava uma liga já extinta nos Estados Unidos. Matheus vê a ida aos Estados Unidos como um erro. Não gostou do nível da competição que foi disputar (espécie de liga rival da MLS) e jogou numa equipe com problemas financeiros.

Por isso, acredita que ainda está em processo de retomada de carreira.

Em 2016, estava de volta ao Brasil. Acertou em outubro com o Atlético-GO e, mesmo tendo assinado apenas no final da temporada, foi útil: fez o último gol da vitória do Dragão contra o Tupi na 36ª rodada da Série B. Foi o gol do título.

Gol do Atlético-GO! Após linda jogada, Matheus Carvalho só toca para o gol aos 41' do 2ºt

No ano seguinte, subiu de novo, desta vez com o Paraná. Em 2018, jogou no ABC. Em 2019, acertou com o Náutico.

Começou como titular, mas logou perdeu a vaga. Ficou mais de três meses sem entrar em campo por opção do então técnico Márcio Goiano.

Tudo mudou, porém, com a substituição no comando. Dal Pozzo chegou para mudar a trajetória de Matheus no Timbu.

Hoje, o atacante é peça importante no time. Espera retribuir a confiança.

- Essa coisa de voltar à Europa é um propósito lá para frente. Hoje meu foco é aqui. O clube que me ajudou e me abriu portas quando eu precisei foi o Náutico. O clube tem tudo para subir, a diretoria tem feito um trabalho excepcional. Está na hora de retribuir.

Foto: Marlon Souza / Pernambuco Press

 
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